15.3.13

Meu poeta, meu estimado poeta


Não sei se posso lhe afirmar que trago comigo nestas linhas, boas novas.
Estou gostando da vida no interior, tenho muitas plantas em minha casa, muitos felinos e cachorros, cuido disto tudo com o mesmo zelo de uma mãe.
Sobre continuar a escrever poesias, talvez isso não me caiba mais. Tenho me dedicado a telas, paisagens, o ritmo das pessoas daqui.
Estou me adaptando bem ao ritmo das coisas, minha doença está praticamente curada.
Existem coisas que ainda me assombram, mas a paz que esse lugar tem me causado, e a forma como essas pessoas tem me tratado, mostra que você estava certo em sua ultima carta.
O que deve ser feito, irremediavelmente feito, é permitir-se.

Envio junto com a carta, uma fotografia do meu rudázinho.
Esperamos sua visita, o café está sempre quente e forte.


Com carinho.




14.3.13

Sur Mon Coeur


Araras, 8 de março de 2013.

Faz calor no interior.
Tenho tido medo de mim, do que posso fazer comigo, do que tenho feito.
Permaneço deitada num sofá machucado pelo tempo. Sinto uma parte da madeira dele em minha espinha, mas não dói.
Meu corpo se adaptou à ele, ou ele à mim.
Somos um só.
Eu sou uma menina sofá.
Tenho estado triste, não gosto de abrir as janelas. Os motores dos carros que passam por essa avenida, denunciam uma localização que desconheço e isso me amedronta.
O sol me assusta, a vida engole quem não é forte o bastante pra sentir a luz do sol.
Não tenho sido uma boa companhia pra ninguém.
Estar só, sentir-se só.
Há lagrimas, há um nó.
Ser ou estar incapaz, diante do tempo.
Talvez a vida seja isso, essa insatisfação. Esse engolir sem saber o que ou por quê.
Ou talvez eu esteja apenas deprimida.

27.12.12

Noturna.

A melancolia noturna me persegue. A nostalgia também.
Os copos suados, os drinks gelados, as conversas sem eira nem beira.
Ah, e me diz sobre essas fumaças que se cruzam na madrugada, como faço para tê-las de novo e de novo e de novo?
Dedicarei essa taça de vinho, aos seres  notívagos! Tão bonitos, tão luzentes que precisam da noite pra correr.

11.12.12

o florescer.

Me ocorreu agora, escrever sobre um ser que me faz bem-bom.
Em dias assim, penso como é terrível o poder da palavra ingrata, que dilacera o coração do homem! Venho caminhando, aos poucos e devagarzinho, não quero engolir o mundo e nem abraça-lo, com o imediatismo de outrora. Quero ver águas, ser águas, desaguar n'algum mar. E depois voltar a ser forma, geometria, compulsão. Mas quero tudo isso devagar, pois vi você transparecer, translucidar meus olhos.
Quando me afagaste, o coração descobriu então, o que é carinho. Ser luzente, raio que invadiu a casa e não foi embora. Me ocorreu de escrever sobre você, por que és paz. E nessa altura, não me cabia apenas sentir,  penso que não me cabe explicar, mas sublimo o amor, que me fez florescer. E te digo com os olhos rasos d'agua, és paz, és belo. E tudo aqui se encontra como gosto, tudo belo, tudo em paz. Feito você.

26.11.12

in memoriam

em memória de todos os esquecidos mortos-vivos.

esse poema não passa de mais um pouco de verborragia, caro leitor.
verborragia de amor aos que são esquecidos, vivos, mortos, com dor.
animais selvagens mortos nas pistas, para que você chegue a sua casa doce.
vozes se cruzando em minha cabeça. já não sei como distingui-las.
há um monstro a solta.
há um monstro em mim.
eles não podem me ouvir, não podem.

os esquecidos por mim, atolados, sufocados, mortos.



23.11.12

uma hora qualquer.

Cresceu assim, sempre aceitando o fato de ser deixada pra outra hora.
Quando pequena, queria contar sobre o dia na escola, sobre o amigo imaginário, mas das pessoas ao redor, só ouvia: vamos sair, deixa isso pra outra hora.
Cresceu determinada a nunca deixar nada pra outra hora.
Em algumas situações pensava tanto tanto em desistir, mas repetia a si mesma: deixe isso pra outra hora.

9.11.12

agora tenho que coçar minhas costas sozinha

uma vez ela me disse que eu estava enganada, absurdamente encantada com tudo. mas ignorei, eu acordava com sol e suco de laranja.
como um força, algo energizante, ela estava ao meu lado, sempre.
até nós dias em que me era necessário chorar. mas os risos, ahhhhh os risos que ela me causara. esses tomavam conta do espaço, como uma bexiga d'água quando explode e se esparrama por todos os cantos.
era assim minhas tardes, noites, madrugadas, com ela.


era pulsar sem cessar.
cafuné, cosquinha e algodão doce.