23.10.12

quase triste

chove, não faz frio!
o cigarro está queimando, evaporando, sumindo, um após o outro.
esse cheiro forte, fica em mim, como se eu fosse toda errada, sempre.
venho flertando com o fundo do poço, há um ano.
sou jovem demais, menina demais, não banco o jogo como uma mulher.
cansada de ser um peso, sinto-me triste. não inteiramente.
não me permito afundar, atolar até o pescoço!
fico buscando oxigênio em todos os lugares, antes de adormecer.
e essas ideias que me passam pela cabeça antes de fechar os olhos, doem tanto.
preciso acertar o caminho, mesmo que seja a passos lentos.
para isso, preciso deixar que sangre! que doa, que me rasgue inteira, para que eu possa ressurgir.
no meu tempo solitária, encolho-me n'algum canto e choro, como se chorar fosse me limpar.
me tirar esse cheiro forte de cigarro, de desencanto, desafeto.

mas ainda me levanto, ainda finjo sorrir, ainda canto.

sou quase triste.

21.10.12

sea of love. [ao amigo, irmão, querido, felipe martins]

'come with me my love. to the sea. the sea of love.'

sempre tive que estar sangrando para que pudesse me abrir, estilhaçar-me em versos tristes.
aquela velha historia dos versos tristes como quem morre!

felipe nem se quer sabe o toque dos meus dedos, o hálito, a respiração, nunca nem sentiu meu coração bater, pertinho do dele.
mas o que se passa entre a gente, é fora do comum.

tenho esse desejo raro de mantê-lo em minha vida, de cuida-lo, de querê-lo bem, o tempo todo.

temos um pacto, o a m o r.

não há o contato físico, ainda nos abraçaremos n'algum momento da vida.
mas a vida pulsa no agora, e o agora é esse amor.

amo felipe como se o tivesse em mim, dentro de mim, como se eu fosse uma extensão dele, e ele uma extensão de mim. nosso 'almost blue' não teria sentido se não nos sentíssemos assim um em relação ao outro.


14.10.12

olá, meu amor

o céu é um lugar a ser compartilhado.
vagamos pelas ruas frias dessa cidade, mas sempre terminamos no mesmo chão.
mãos se tocam ocasionalmente, sorrisos surgem. 
observamos colisões! 


a hora do banho tem sido divertida com você em meus pensamentos.
crio a atmosfera de teus braços e movimentos. 
deito-me no chão e deixo a água me possuir.
arrepios bobos me ocorrem, pensamentos também.


depois, exausta de fazer amor com a água, deito-me em nosso chão e brinco com os dedos que imagino serem os teus.


8.10.12

sobre minha amiga tristeza

Ela sempre volta para me assombrar.
Veja bem, não posso ouvir "Clair de Lune" sem que ela invada meu universo, com seu ballet de pernas, mãos e recordações.
Entre seus quadris eu era dela.
Ela era o sol, nosso amanhecer. O piano visceral de nossa sala. Ela era vida em sua forma líquida.

não-sei-o-nome-disso-aqui

cogitar a possibilidade de você ter feito amor com outro alguém, me deixa azul.
só tenho nosso amor e os discos!
então a canção diz que é melhor não pensar duas vezes e eu a obedeço.
há dias venho sentindo o tempo passando rápido demais para mim e não sou ágil o suficiente para acompanha-lo, então obedeço a canção e não penso duas vezes.

há flores em meu quarto, há roupas espalhadas pelo chão.
cigarros queimam no decorrer da noite.
deixo a janela aberta na esperança de que os pássaros me visitem, como você costumava fazer.



5.10.12

a culpa é do Dylan

O velho Zimmerman ainda nos faz sentido.
Você diz que também estamos envelhecendo, precisamos pegar leve.
Buscando um pouco de paz num universo além. Os cachorros rolam na grama em dias assim.
Uma tempestade vem vindo, mas só queremos um amor manso, meu velho amigo.

coração marinheiro.

Tento escrever, mas de meu eu, só há o choro contido nessas linhas.
Poderia pegar nossa antiga mochila, a mochila de quando papai nós abandonou pela primeira vez, para viver o mar de perto.
Meu coração é um marinheiro, meu irmão, um marinheiro, como o de nosso pai.
Cruzar as fronteiras, inventar amores pela estrada, nada disso doeria tanto quanto permanecer nessa velha cabana e te ver partir, meu querido irmão.
Mas se faz necessário trilhar novos caminhos. Ao menos temos a arte, como maldição em nossas vidas.
Papai era um velho lobo do mar, de herança nos restou essa eterna 'sede de viver', estamos cansados de viver os livros, você precisa seguir seu caminho, e eu decido que navegar para longe é o melhor a ser feito agora. Que a vida nos seja leve como o amor, e dura como uma mãe rígida. Que não nos falte o amor, em qualquer ocasião. É preciso partir, meu velho irmão.