21.8.12

o menino magrelo.

era um menino ALTO, m a g r o e de tão desajeitado, flexível.
ele sentou em meu sofá e dedilhou no violão algumas notas, nunca repetidas.
ele cantava em outra língua, uma que eu não entendia bem.
me vi ali, morrendo por dentro, com o coração pulsante.
por que o menino, alto, magro e desajeitado estava no meu sofá e cantava com toda a vida que corria em suas veias.
depois de um tempo caí em mim, o menino já é homem, sempre foi.
e um dos mais divertidos que eu conheço!
não foi um caso de amor à primeira vista, e nem de carinho carnal.
com esse homem-menino eu tenho algo muito peculiar.
não tenho medo de mostrar minha falta de jeito, por que, o mesmo, é o cara que menos julga desajeito nos outros.

xícaras foram feitas para serem quebradas!


17.8.12

solos de guitarra

ela se movia muito rápido, parecia uma gata.
ela dançava em seu frenesi.
tinha devoção pelo sol e a lua.
ria de maneira gostosa, eu perdia o rumo com aquele sorriso.
essa era a fulô, menina que dançava com pés de quem anda sob o caco, ainda fresco, quebradinho em mil pedaços.


 feito gente grande quando se enamora.

ay fulô!
meus dias eram lindos com você aqui.

12.8.12

registrando sonhos I

acordei atordoada, havia sonhado com tullio, veja bem, não o conhecia, mas havia sonhado com ele.

vida conturbada, há dias não tinha sonhos bons.
adquiriu o hábito de fumar maconha todos os dias para dormir mais vagarosamente.
foram alguns minutos entre o deitar na cama e o fechar os olhos, até que surgiu a projeção do que talvez, fosse um sonho, e era.

a casa era grande e antiga, tinha moveis engraçados e ao mesmo tempo assustadores.
um manequim sem cabeça, uma espada cheia de sangue que na verdade era molho de tomate, milhões de almofadas de veludo-de-todas-as-cores. um abajur que não era cor de carne, longe disso, era cheio de luz e muito sombrio, como se estivesse derretendo, consegue projetar isso em sua mente?

estávamos deitados em meio as almofadas, eu e tullio. só!
conversávamos sobre casas no campo, a lonjura de qualquer contato que não fosse o de almas irmãs.
tullio parecia estar em paz, com seu cabelo bagunçado, sua brancura pálida e seus lábios que beijavam-me as costas, num carinho que não era terrestre. não sentia medo, nem frio, o arrepio não despertava outra intenção que não fosse a de permanecer assim, toda a vida, com tullio.

acordei atordoada, havia sonhado com tullio, que coisa engraçada não? nem o conhecia!

4.8.12

sobre telefonemas e usuários inexistentes

o tempo faz coisas engraçadas com os homens.
me vi te telefonando as quatro da tarde pra saber se você respirava, ainda.
a operadora telefônica me disse que seu número não existia mais.
que coisa é a vida, não?

íntimos, nós fomos, não se pode negar.
estranhos nós nos tornamos e desde então, somos.

ser, o que é o ser?
as tais portas da percepção se abrem quando se toma ciência de que 
não passamos de um pedaço de carne.

quando se está disposto a meter a mão dentro do tronco e estilhaçar tudo que habita dentro,
passa-se a ver o universo com outros olhos, olhos de quem morre mais do que vive.
e que a cada morte, nasce e cresce. 

torna-se então, mais forte, mais conciso. 

vivência-se a morte a cada dia.
ainda em vida.