26.4.12

Sobre o quê?

Conversando com Lucas no desenrolar das horas.

- Não é sobre estar apaixonada. Nunca foi.
- Então é sobre o quê?
- É sobre essa ideia babaca de rotular tudo. Sou livre, gozo com o sabonete, o travesseiro, com minhas mãos e com você.
- Não é sobre rotular relações, nunca foi, pequena!
- Ah é? Então por que me prende?
- É sobre a forma como seus olhinhos brilham quando você sorri.

- silêncio-

- E então, a gente já morreu?
- Não!
- Droga, você prometeu.


Não era sobre fazer sentindo, nunca foi, era apenas sentir.
E sentiram.

24.4.12

o ar.

falta o ar 
o ar faz falta
é como seguir a correnteza
engolindo todo liquido vivo 
tão brutal
e sentir a água que atravessa
os ouvidos, o nariz, a boca, os olhos
e certos orifícios
tão brutal ver que pensamos ser mais do que somos
e achamos absurdo que a natureza vença
quando queremos seguir a correnteza
arde o olho, a garganta, enche o corpo
a ponto de emergirmos roxos
frios, sem pulsação!

falta o ar quando o ar faz falta.

13.4.12

duas luas

ela sempre volta, é inacreditável.
e o que eu devo fazer? limpar as manchas de um crime em nossos lençóis?
eu estou tão cansada de esperar.
ela sempre volta quando alguém precisa limpar toda sujeira que ela esconde debaixo do tapete.
eu não vejo pecado em estar entre seus quadris.
nosso suor nunca foi profano!
eu estou tão cansada de carregar nosso amor como um fardo.
isso tem que morrer aqui.
eu quero sujar o nosso templo, ela não pode voltar com suas lindas luas transcendentais.
por que diabos ela mente tanto?
por que eu sempre me ponho a espera-la.
isso tem que ter fim, isso tem que morrer. isso tem que morrer. eu não quero morrer. ela deveria morrer. isso tem que morrer. isso tem que morrer. isso tem que. MORRER.


10.4.12

autoestrada!

não é fácil abrir mão de um sentimento.
não é como tirar a roupa e nadar nu.
nós poderíamos fazer amor debaixo daquelas arvores que plantamos quando eramos apenas crianças!

o que você me diz?

ainda existem arvores na cidade, querido. o tempo tem devorado nossas vidas.
o que nos tornamos? você vê? você também sente que algo se perdeu pelo caminho?
não é como nadar nu ou dançar para a lua cheia nas noites de quarta.
então por que você não se senta e me acompanha num chá?


ainda estamos vivos, querido.
sim, nós ainda temos as arvores e as ruas dessa cidade solitária.
as luzes ainda brilham do alto daquela montanha e os carros na autoestrada
seguem seus destinos curiosos!

não somos mais os mesmos, mas ainda nos temos, querido. sim, nós ainda pertencemos um ao outro.

e então, o que me diz?

6.4.12

desalento

se não fosse o tempo
do meu desalento
e eu não me entregasse
a este sofrimento

se não fosse a fruta
que me dá um nó
ou ou vento frio
que nos reduz a pó

se não fosse as horas
agora tão infindas
se não doesse tanto
se tivesse cura

talvez sem dor e amargura
o ressentimento fosse embora
e me restasse a vida
que é finita e liquida. 



3.4.12

Inquietude humana.

não consigo dormir, a cama me parece vazia. a vida me parece vazia, também!
será que sou eu que estou vazia? sinceramente, não sei.
tenho conversado muito com van gogh, trocamos cartas, não sei por que cargas d'água ele me corresponde.
ele traçou um perfil sobre mim, me disse numa das cartas, que sou temperamental, muito geniosa!
também disse que quer eu queria ou não queira, eu devo continuar e ele deve continuar também, afinal de contas "o moinho não existe, mas o vento continua".
engraçado, ele morreu há tanto tempo, deve haver uma mistica muito grande nessas cartas.
por isso as guardo na minha gaveta de calcinhas. ainda acredito nas noites de quarta.
e que coisas boas acontecem quando escutamos harvest moon, o Young sempre foi um lindo.
sou jovem e imediatista, talvez apanhe em praça publica num dia qualquer.
estou há alguns dias sem fumar, não bebo café e a inquietude humana ainda se faz presente.
não, não tenho mais o desejo de viver de outrora.

outro dia num sarau ouvi uma bela garota dizer algo do tipo: além do sexo, quem anda me comendo é o tempo!
o tipo de frase que você adoraria ter soltado antes.
recebi também uma carta de gauguin, nela ele dizia estar muito doente e precisando de grana.
e como você vincent, ele também queria saber o que que há com essa falta de desejo em mim.
como vocês se foram, talvez preencher outro mundo com arte, resolvi fechar meus olhos para a humanidade.
nem a antiga me faz gozar.