26.11.12

in memoriam

em memória de todos os esquecidos mortos-vivos.

esse poema não passa de mais um pouco de verborragia, caro leitor.
verborragia de amor aos que são esquecidos, vivos, mortos, com dor.
animais selvagens mortos nas pistas, para que você chegue a sua casa doce.
vozes se cruzando em minha cabeça. já não sei como distingui-las.
há um monstro a solta.
há um monstro em mim.
eles não podem me ouvir, não podem.

os esquecidos por mim, atolados, sufocados, mortos.



23.11.12

uma hora qualquer.

Cresceu assim, sempre aceitando o fato de ser deixada pra outra hora.
Quando pequena, queria contar sobre o dia na escola, sobre o amigo imaginário, mas das pessoas ao redor, só ouvia: vamos sair, deixa isso pra outra hora.
Cresceu determinada a nunca deixar nada pra outra hora.
Em algumas situações pensava tanto tanto em desistir, mas repetia a si mesma: deixe isso pra outra hora.

9.11.12

agora tenho que coçar minhas costas sozinha

uma vez ela me disse que eu estava enganada, absurdamente encantada com tudo. mas ignorei, eu acordava com sol e suco de laranja.
como um força, algo energizante, ela estava ao meu lado, sempre.
até nós dias em que me era necessário chorar. mas os risos, ahhhhh os risos que ela me causara. esses tomavam conta do espaço, como uma bexiga d'água quando explode e se esparrama por todos os cantos.
era assim minhas tardes, noites, madrugadas, com ela.


era pulsar sem cessar.
cafuné, cosquinha e algodão doce.


8.11.12

Despida de palavras, nua de alma

Eu me permiti, eu permiti que me vissem nua, despida de tudo que se possa imaginar, as palavras, estas são enganosas. Deixei que ele me visse no meu estado primitivo, suando frio, berrando, deixei que ele visse minha fragilidade. E então pequei, deixei que visse meu coração e que o tocasse com as pontas dos dedos. Me feri. Me abro agora, nessas linhas, por que preciso derramar, me ocorre que é necessário expulsar seu demônio de mim. O que resta agora, são os filtros dos cigarros que fumei, noites a fio. São os restos nos copos, as sobras de comida. E o meu penar. Eu já disse uma vez, a você terno leitor, que amar me doía as pontas dos dedos, e desamar, me dói o corpo todo. Tenho tido uma vida tranquila, sem muita bagunça, eu diria até que tenho sido saudável. Nunca mais se ouviu dizer que me derramei em bebidas, que amanheci n'algum lugar onde os fracos, os indignos, os sacanas se encontram. Não, não! Eu tenho sido uma menina, não, não estou mais na condição de menina, tenho sido uma mulher paciente com a vida, com você, caro leitor.
Avistei o fim do que só nasceu em mim, há alguns dias. Chorei antes de dormir, como uma boa garota.
Então, mais uma vez, me ocorreu que não deveria doer, não marcara nada. É tudo coisa da cabeça de gente carente, gente feito eu. Que se abre e se fecha, no ritmo d'uma valsinha de amor. Mas nessas aberturas e fechaduras, engraçado isso não é mesmo? pois bem, nessas mudanças repentinas, existe uma certeza, sempre me dispo da verdade, das palavras, das ironias do coração, estou nua de alma.

7.11.12

a vida de fora

Só há vida do lado de fora, da janela.
Disseram que ela jamais voltaria a me assombrar, eles disseram que era o fim.
Mas eu continuo aqui, presa do lado de dentro. Eu vejo as coisas as quais amei, se partirem ao meio, sem nada fazer.
Eu sou apenas uma garotinha desamparada.

1.11.12

seres do século

Falam sobre historias, histéricos como macacos indomáveis. Falam sobre fazer parte de um bando de mercenários, acreditam ser admiráveis.
Dormem com a primeira que lhe aparece e abre as pernas, riem do passado dela, enquanto juram seu eterno amor.
Depois, mais tarde, a colocam no pedestal de virgem, imaculada, como se essa criatura também fosse admirável.
Dignos de aplausos, com suas máscaras douradas, com seus discursos contemplados!
Estes são os seres do século, os bem resolvidos com a miséria, os que se perderam há algum tempo, quando costumavam apontar as inadequações dos outros.