30.9.12

domingo clair de lune

era clair de lune, era domingo a tardinha.
observava os movimentos das folhas, dos pássaros, dos felinos, dos homens.
a liberdade é infinita!
talvez doesse algum órgão, mas a vida se fazia desperta nessa hora.
abracei o vento, dançamos, como tudo que é leve
chorava, mas não era mágoa, tristeza, era a mais linda e pura sensação de completude!
eu era minha. eu sou, minha.

29.9.12

o monstro humano

a porta estava entreaberta, eu não pensei muito -já era tarde- eu não pensei muito, entrei com tudo e disse: -olá.
ela estava sentada, pernas cruzadas, não sorria nem chorava.
algo há incomodava, talvez fosse o vento frio que entrara pela janela ainda aberta, mesmo estando tarde.
tentei dizer algo que a acalentasse, que bobagem a minha, estávamos vivendo a madrugada fria e nada que não fosse mais um gole daquele conhaque barato, nos trazia calor.

as mãos trêmulas, o rosto rosado, os lábios vermelhos, o brinco que tinha no nariz, a meia calça preta com desenhos de laços, a nuca.
meus olhos corriam por todos estes detalhes, que embora pareçam fúteis, naquela ocasião eram de extrema valia, para mim.

tentei dizer algo novamente, mas a voz, por conta do frio, do cigarro e da minha inflamação na garganta, não saíra.
ela então se aproximou, segurou meu rosto com as mãos frias, beijou-me a testa e disse que já ia.
fiquei parada, esperando que o mesmo vento cortante que a incomodara até então, a trouxesse de volta para mim, num gesto violento e egoísta.

ora se não era eu mesma, fugindo de mim, naquela noite.
a menina com a rosto rosado, os lábios vermelhos, o brinco no nariz, a meia calça infantil e a nuca, era apenas meu reflexo refletido n'algum canto daquela casa vazia e triste, naquela noite fria.

era uma delicadeza, a forma que meu subconsciente achou para dizer que esta parte de mim, havia ido embora, a inocência, não nos restara nada além do monstro humano.

27.9.12

mais uma canção francesa

ela toca o piano, com suas mãos frágeis, enquanto rolo pelo tapete carmim, ele está macio!
tento chamar sua atenção, mas ela não se encontra em nossa sala
meus pés agitados roçam suas pernas, pernas rosadas nas extremidades, devido a baixa temperatura

um vestido de tecido muito fino e claro, quase transparente
me proporciona a visão do paraíso -o corpo dela- palpável.

então os lábios salgados se abrem para mim
envolvida pelas notas provocadas pelas mesmas mãos frágeis do corpo-paraíso
aperto almofadas contra o corpo, contraindo-me, me torno um feto

ela se aproxima de mim, um sussurro com halito de hortelã
me devolve a vida
dançamos, partilhamos a alma naquele instante

então a empurro até o piano, o corpo sem a música
não me vale nada! NADA.

então lhe peço para que me toque mais uma canção francesa.

25.9.12

pra me lembrar de quem eu era

eu vejo os felinos rolarem no tapete e depois escorregarem no corredor
você está deitado em nossa cama e nossa canção toca agora
somos apenas crianças, meu pequeno homem
agora nos vejo brincando em alguma praia com nossos amigos, também crianças
criamos castelos de areia, você quer abraçar o mundo


frio na barriga!

e então acontece de sua mão encontrar a minha
mãos felizes, mãos felizes, mãos felizes.

24.9.12

sobre todos os 'dades'

maturidade é a coisa mais querida de todos os 'dades'
                                   
                      ela vivia na cidade da bipolaridade



   não pagava a anuidade, nem curtia esse lance de vaidade

quando de repente veio um jacaré saliente e comeu-lhe o ventre
sem dó, nem piedade!



ó só que maldade.

23.9.12

meu modernismo fulo

cessação do pulsar
             sangue corre-corre


há dias em que o texto sai sem música
há músicas em que os dias saem sem textos

                                 sopa de letrinhas dá nó nas tripas

queria mesmo era viver de melancia.


21.9.12

a ausência autoexplicativa de rui

rui sempre foi o cara certo pra mim, todo mundo sempre disse. afinal de contas, vani não teria sentido sem rui.
eu mesma já aceitei a ideia de que nenhum outro virá a ser o que rui foi, comigo.
são quase duas da manhã, eu estive pensando em telefonar para rui, mais uma vez.
quando digo mais uma vez, me refiro a esta ideia, a de telefonar.
segundos antes, conversava com rui num chat desses de rede social.
dizia justamente sobre essa falta, essa necessidade que sinto. essa coisa toda imensa, grande e explosiva dentro de mim.
rui me explicava sobre a vastidão do ser, dizia que ainda não era hora de sermos amigos tão próximos.
essa proximidade poderia nos ferir ainda mais, até por que não estava disposto a estar próximo.
não me vi no direito de telefonar, vocês entendem isso? eu simplesmente não me vi no direito de entrar na vida de alguém forçadamente, não mais.
rui merece a alegria de ser. e tem sido feliz.

entendo que não seremos o que fomos, novamente e significativamente, um na vida do outro.
nem quero ser, não quero ferir, não quero deixar.
quero ser uma recordação gostosa, com cheiro de maçã-verde.