5.6.12

Canibalismo, sim.

Olharam-se durante algum tempo, em uma casa que não era dela.
Olharam-se um pouco mais, sorriam com os olhos. Então ela sentiu um sopro frio subindo a espinha dorsal e riu à beça. Caminhava meio sem rumo, precisava respirar. Sentou-se no corredor de fora, e ouviu folhas cantarolando cantigas, enquanto dentro da casa tudo acontecia. É preciso se segurar, é preciso se segurar em algo. Não! É necessário permitir-se. Permita-se. Permita-se. Permita-se sentir ou não sentir. Dentro dela havia uma vontade imensa de devorar pessoas, mastiga-las, dilacera-las, engoli-las à esmo. Tantos corpos no jardim já havia enterrado, mas nunca provara a carne de ninguém, assim, canibalismo não. Canibalismo? Sim! Decidiu então comer, sem ser com os olhos, agora com os dentes. Antes era necessário um golpe certeiro que imobilizasse a presa e a deixasse livre para degustar o corpo alheio. Lembrou de todos os outros corpos que havia enterrado no jardim enquanto tirava a camisa do corpo jovem estirado no chão da sala. Corpo esse que ainda estava quente, passava as pequenas mãos nos mamilos, mordia, puxava, ria, mordia, puxava. Com um  punhal em mãos, tratou de abrir o peito sugando todo sangue que escorria, brincava com a língua por aquele corpo quase morno. Cravou os dentes, puxou, não aguentou mastigar, engoliu. Tremia feito bambu verde. Tentou de novo, dessa vez mastigou lentamente, sentia algo desconhecido descendo pela garganta e explodindo em seu estomago. E então sentiu que poderia morrer naquele instante, agora o punhal desbravava seu corpo jovem e cheio de vida. Dois golpes no peito foram o suficiente para que deitasse ao lado do outro corpo e sentisse todo o barato de ser, humano. 

2 comentários:

  1. E porque não?

    Acredito que com um tempo a gente vai percebendo o que é melhor ou que pensamos ser bom pra gente... Dai permiti-se sentir ou ousar. Acho que cabe muito a gente querer, conhecer... E ser humano. Porque na real não sabemos porque estamos aqui, e pra 'poupar' a vida seria desperdício, e o melhor é viver porque é preciso, porque é humano. Intensamente ou não.

    Super curti, gostei também que liberou pra comentários. rsrs

    Abraços.

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