24.3.12

amor crônico

Tinha os olhos tristes.
Há dias não comia e nem dormia. A vida já tinha se esvaído e não via perspectiva alguma.
Ouvia de longe o sussurro da folhagem das arvores.
Nada a encantava mais, nem mesmo o fato de era outono e a cidade estava extremamente bela.
Os dias arrastavam-se como se a vida fosse uma eterna segunda-feira cinzenta.
E tinha aquele homem mais velho, aquele homem que nutria um carinho que pra ela era absurdo.
Aquela relação conturbada, ora sentia o desejo de estar entre seus braços e abraços, ora queria somente que a deixasse em paz. Por que ele, diferente de todos os outros a questionava tanto e não compreendia seu tempo. Alias, ninguém nunca conseguira este feito.
Há dias não comia nem dormia, permanecia extática frente aquilo que a assombrava.
Em outrora cogitaria a possibilidade de um suicídio cheio de drama e clichês, com recado de amor e cordinha no pescoço. Não mais aquele vinho barato, nem os cigarros, as cartas de amor.
Nem a vida, nem os prazeres.
Sofria do que posteriormente ela mesma compreendeu e rotulou: amor crônico.
Um fato sem explicação que sempre a fizera chorar, sorrir e gozar.